O Pavilhão do Brasil na Expo 2020 Dubai apresenta as águas brasileiras, dos seus rios e seus mangues: nascedouro de toda a fertilidade da vida, patrimônio natural que dá a base para a discussão da sustentabilidade no planeta. Focaliza-se não aquele país mais conhecido no mundo, de caráter litorâneo, e voltado para a Europa, mas um Brasil de florestas, de palafitas, e que celebra a cultura e a resistência de povos indígenas. Um país “à margem da história”, nas palavras de Euclides da Cunha.*
Com uma estrutura tênsil em aço e tecido branco leve, como uma oca contemporânea, o pavilhão forma um arcabouço capaz de receber projeções, criando uma atmosfera imersiva de imagens, sons e temperatura variáveis, por sobre um ondulante e raso caminho de água que é também frequentável. Um lugar de animação e interação, com um inusitado caráter cênico. Palco de visualização e de experimentação de uma natureza e de uma cultura voltadas para o passado e para o futuro. Isto é: tanto para a preservação desses ecossistemas, quanto para a potencialização sustentável de seus recursos por meio da tecnologia.
A grande “praça d’água”, feita de lagos e meandros rasos, é resguardada por uma estrutura tênsil com 48 metros de lado e 20 de altura. Volume formado por treliças nas quatro fachadas, a partir de cujas arestas superiores é esticado o tecido da cobertura, tensionado de modo a se conformar como um impluvium de quatro faces que convergem em uma gárgula levemente excêntrica. O tecido, do tipo Precontrant, da Serge Ferrari, é armado por cabos de aço que constituem as arestas do impluvium, e que, depois de se amarrarem em um anel de tração, são atirantados ao solo, dentro dos espelhos d’água. A geometria resultante, como em toda estrutura tênsil de elementos elásticos, não é exatamente plana, com arqueamentos para cima nas arestas (cabos de aço), e para baixo nos lados (tecido).
Durante o dia, essa estrutura envoltória sombreia e protege as águas. Ao anoitecer, faz do pavilhão um cubo luminoso flutuante. Tomado por projeções, sons, vapores e aromas sutis, é o espaço da experiência expográfica proposta, cujo tema são as águas fluviais brasileiras.
*À margem da história é um livro póstumo de Euclides da Cunha, publicado em 1909, que descreve suas viagens pelo Alto Purus entre 1904 e 1905.
Vencedor do prêmio Building of the Year 2023 do site Archdaily
Publicado nos sites Archdaily e Dezeen e nas revista Projeto e AV – Arquitectura Viva
Indicado ao prêmio MCHAP – Mies Crown Hall Americas Prize