Quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo e respirar. Aílton Krenak
Em resposta ao chamado da Expo, Empowering Lives, o pavilhão do Brasil recorre a Hélio Oiticica e à noção de empoderamento expressa em seus penetráveis para apresentar uma arquitetura que – guiada por uma atmosfera imersiva e uma experiência corporal coletiva – estimule o visitante a tomar uma posição atuante (público-participador).
Tal qual um penetrável, em que “o espaço ambiental o penetra e envolve num só tempo”, o pavilhão se desenvolve enquanto travessia, articulada por cheios e vazios, que conferem ao percurso um sentido de enigma, já que nem exterior, nem interior se revelam de uma só vez. Contudo, tão logo concluída a jornada do visitante, o mistério se desfaz dada a simplicidade do conjunto: quatro planos transversais, em ângulos distintos, definem o espaço.
Daí decorre uma organização extremamente clara do programa. A travessia corresponde a quatro núcleos expositivos, de modo que a entrada acontece, por meio de uma ponte ao nível da rua (térreo superior), e a saída, pela praça rebaixada (térreo inferior). Todos os ambientes expositivos são isolados do exterior e possibilitam preciso controle de som e luz. A sala multiuso se encontra no nível seguinte (primeiro pavimento), podendo ser conectada, sem prejuízo, à experiência do visitante ou a eventos para convidados e parceiros. Um nível acima (segundo pavimento), dispondo de luz natural rebatida nos planos inclinados, está a administração. Na cobertura, está o restaurante de onde é possível ver o parque da Expo e, ao longe, o mar de Seto.
A estrutura do restaurante é eleita a parte do edifício a ser doada para Osaka após o término da feira. Transposta, como marquise, para um espaço público, deverá abrigar um redário, configurando não apenas uma lembrança da cultura brasileira em solo japonês, como também uma menção a Lucio Costa que, em 1964, empregou com elegância um redário para representar o país na Trienal de Milão.
A estrutura do pavilhão será em pórticos de madeira com vãos de 13 m, modulados a cada 2.40 m. Essa decisão, apesar de simples e clara em seus princípios, contempla a diversidade de programas exigidos no pavilhão: espaços administrativos adequados e surpreendentes espaços expositivos. Os vedos laterais são constituídos por duas camadas, internamente por um sistema composto opaco e isolante; no exterior por policarbonato translúcido, revelando a estrutura de madeira.
O uso da madeira aponta possível colaboração entre a milenar tradição da carpintaria japonesa e a engenharia brasileira, que se volta, nos últimos anos, para o uso deste material. Este desejável intercâmbio contribui para a ideia do pavilhão como laboratório, campo gestacional de iniciativas no âmbito tecnológico e cultural.
Se o percurso horizontal é generoso com o público, tendo este apenas que descer um nível para completar a visitação, sem sequer notar a existência dos programas de uso restrito, o fluxo vertical não é menos cristalino. Conectado ao volume principal, um bloco esguio congrega os usos de apoio e toda a circulação vertical.
A jornada do visitante se encerra na praça rebaixada, passando antes pela loja e café – os quais possuem acesso independente. Por meio de uma arquibancada, esta praça se conecta à rua de acesso principal ao pavilhão. Desse modo, a experiência no interior se prolonga naturalmente ao ar livre. Não é demais pontuar que todo este espaço pode se transformar a partir de ações de ativação de parceiros ou performances – como o divisor de Lygia Pape, por exemplo.
Oiticica optava por construções sintéticas, se referindo aos penetráveis como “labirinto virtual”, evitando qualquer literalidade que esse conceito poderia assumir em termos formais. Neste pavilhão-penetrável, a dualidade entre os opostos (enigma e clareza, aberto e fechado, luz e sombra, variedade e módulo) é similar, pois a arquitetura, afinal, se resolve a partir de dois elementos apenas: espaço e luz.