Com o intuito de levar espaços integrados de educação, esporte e cultura a regiões periféricas da capital, foi implantada pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo em 2002, durante gestão da prefeita Marta Suplicy (2001/2004), a rede CEU. Alexandre Delijaicov, André Takyia e Wanderley Ariza, então arquitetos da Divisão de Projetos do Departamento de Edificações (Edif), da Secretaria de Serviços e Obras (SSO) da prefeitura, desenvolveram o projeto básico desses equipamentos, claramente inspirados na Escola-Parque concebida pelo educador baiano Anísio Teixeira e como desdobramento da proposta da Praça de Equipamentos Sociais (PES), apresentada por eles em 1989, quando Luíza Erundina era prefeita, mas que não foi concretizada.
A unidade de São Miguel, lindamente batizada com o nome do compositor carioca Luiz Melodia, faz parte de uma nova fase do programa, retomada pela administração de Fernando Haddad, com o nome de “Territórios CEU”. A ideia da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), em parceria com outras pastas, é, em vez de construir novos conjuntos, incorporar novas edificações a locais que já tenham equipamentos públicos instituídos, além de requalificar os passeios públicos, calçadas, paisagismo do entorno. Para isso, foram criadas duas etapas de licitações. A primeira, lançada no segundo semestre de 2013, escolheu um projeto padrão (estudo preliminar e projeto básico) que, com base nos 20 terrenos públicos selecionados pela prefeitura, resultou em três tipologias – o escritório escolhido nesse caso foi o Helena Ayoub Silva & Arquitetos Associados. Na segunda fase, dividida por lotes, as empresas ou consórcios interessados desenvolveram, a partir do modelo, um projeto completo para as localidades escolhidas.
Para o CEU Luiz Melodia a proposta foi criar uma edificação em um terreno ocupado por uma escola municipal de ensino fundamental (Emef) e um Clube da Comunidade (CDC), que foram reformados. A principal ideia foi congregar as novas funções em um único edifício, o que exigiu pequena modificação em relação ao projeto padrão, que, em suas três tipologias, previa o bloco cultural e educativo separado do esportivo. Isso acontece devido à composição do terreno e sua apropriação pela comunidade. Além de manter as duas construções existentes, foi necessário preservar as quadras esportivas na esquina, pois elas já se apresentavam como uma apropriação cultural e social sendo entendida pela população local como esquina de esportes. Uma rua que cortava o lote foi desafetada para receber o equipamento.
Um deck manteve a memória do eixo da rua, além de servir como espaço de lazer. Uma das maiores conquistas do projeto, é a praça na esquina oposta às quadras, que surge no lugar de um estacionamento, fornecendo acesso livre a um cinema a céu aberto (um dos elementos da proposta original dos arquitetos do Edif, que não chegou a ser viabilizado). A nova edificação contará com biblioteca, escola municipal de educação infantil (Emei) e piscina semiolímpica, no térreo. A Emei continua no primeiro pavimento, ocupado também por teatro e quadra poliesportiva. O último nível recebeu salas de apoio. A flexibilidade da arquitetura permitirá aos novos CEUs cultivar o programa tradicional, mas também receber atividades como cursos profissionalizantes, alfabetização de jovens e adultos, serviços de assistência social, entre outras.
Publicado na revista Projeto.